quarta-feira, 22 de agosto de 2007

A Church in the City - Tamizo Architects

À primeira vista, este projeto me causou um certo desconforto. "Como assim, isso é uma igreja?". É, isso é uma igreja, projetada pelos louváveis [e para mim, recém-descobertos] arquitetos do grupo Tamizo. O questionamento, mais tarde percebi, surgiu de um tabu arquitetônico que, mesmo após quase uma década de estudos, ainda permanecia dentro de mim.
Trata-se daquela idéia que se agarra em todos os poros de que uma igreja deve ser a principal edificação de uma cidade, deve ter destaque, deve ser vista de todos os pontos. Assim como os minaretes das mesquitas, é um farol da luz divina, que se impõe na paisagem urbana.

Então, justamente pela ausência dessa petulância que as igrejas (especialmente as latino-americanas) possuem, percebi a genialidade deste projeto. Ele não mais perpetua este conceito de que Deus é um ser austero, vingativo, que manda e desmanda e a quem todos nós devemos ter medo. Conceito este bem ultrapassado né? É da época das igrejas góticas, desenhadas para causar temor diante da Ira celestial. Peraí, Ira? Deus não é o puro amor? Como assim, devemos que ter medo de um ser que é puro amor?

Bizarrices daqueles dias em que queimavam mulheres vivas por possuírem uma verruga, por exemplo. Mas não vamos entrar (mais a fundo) nesse papo histórico-filosófico. Vamos falar de arquitetura.


Essa igreja tem uma abordagem completamente diferente. Ao ser projetada harmoniosamente com o entorno, integrando-se tanto pelo gabarito (altura da edificação, para os leigos) quanto pelo alinhamento predial, ela se integra com a vizinhança. Ela é amiga, ela não quer se impor, mas quer fazer parte da sociedade que a acolhe.




Creio que é um reflexo puro do nosso tempo (a tão aguardada Era de Aquário). A igreja não é mais o lugar onde as pessoas vão para aprender a se comportar, para ouvir as verdades sobre o mundo ou aprender novas formas de pecar. É um local de calma, de refúgio às atribulações da vida cotidiana, de compreensão. A igreja é um pit-stop para entrar em contato consigo mesmo, e buscar Deus no fundo de sua alma.

E nada mais inspirador do que toda a poética deste espaço, cheio de planos puros de concreto e vidro, percursos (no caso, aquela rampa suave) que são um estopim para a introspecção e o trabalho com luz e sombra que, confessem, deixa todo mundo mais Zen.

Aliás, Zen é um conceito religioso do budismo. Pergunta: um budista poderia utilizar-se desta igreja para sua introspecção? Absolutamente e positivamente, sim. Esta igreja é católica, mas não se vê aquela cruz gigantesca espalhada pelo prédio, mas singela, humilde no altar. O que se vê é a arquitetura como uma língua universal, que a todos respeita. Essencial nos dias de hoje onde esta babilônia de religiões provoca conflito entre irmãos.

Esta igreja é a pura Paz, solidificada em paredes.

Update!

Não descobri se esse projeto foi construído, creio que não pelo fato de só haverem renderizações no site. Deve ter sido feito para o concurso Diploma of the Year - Concrete Architecture de 2005; que lhe rendeu o primeiro lugar.
Merecido.

3 comentários:

Anônimo disse...

"A igreja é um pit-stop para entrar em contato consigo mesmo" (BELLÓ, Ronaldo. Quantas boas idéias. 2007)

Chegou no ponto!!!!

Curti demais essa igreja!!! Respeita entorno, e além disso, a religiosidade de cada um!

A idéia da cruz mais singela no altar mandou mto bem!!!

Excelente post, Ronald!!!

Beijos

Anônimo disse...

jah tah nos meus favoritos eu diria
adorei a igreja..
minimalista e tals neh..
mto boa tipo MSMO
e eu diria mais... q suas palavras sao estonteantes

Anônimo disse...

Muito interessante a igreja, só não sei se toda essa articulação do espaço nos permite clasificá-la como "minimalista".

Seu blog está legal Ronaaaldo, estou curtindo as coisas que você traz aqui, são ricas.

Abraço!